Depois de ler sobre o incidente com o zagueiro Leandro Castán do Corinthians na sua hora de folga em Jaú, quando ao brincar com uma espingarda de chumbinho perfurou o pulmão de um amigo acidentalmente, fiquei pensando: Por que jogador de futebol se acha acima de qualquer suspeita e que nada é proibido para ele?
O caso de ontem é só mais um na extensa lista de irresponsabilidades cometidas por jogador na hora da sua folga. Para enumerar alguns tem o caso do Adriano amarrando a namorada numa árvore, Vagner Love com traficantes armados em baile funk, acidentes automobilísticos por bebida como Edmundo por exemplo, o caso da recusa dos jogadores do Santos em 2010 em entrar nos Mensageiros da Luz para fazer caridade porque não estavam ganhando, Ronaldo e o travesti no motel, o (suposto) estupro envolvendo jogadores do Grêmio nos anos 80 numa excursão pela Europa e, o mais cruel, o caso Elisa Samúdio. São tantos que fica difícil falar de um por um.
A sensação que me dá é que jogador de time grande, em geral por vir de família paupérrima, não consegue lidar com o sucesso, dinheiro e fama que vêm em consequência dos seus passes, dribles e gols. E isso se dá, basicamente, pelo fato de jogador de futebol ser muito paparicado, seja por empresários, dirigentes e familiares. A vida de muitas mulheres fáceis, baladas mirabolantes, como no fatídico dia da festa que resultou na morte de Elisa Samúdio no sítio de Bruno que testemunhas relataram que tinham até anões no local, falsos amigos, traz uma sensação de liberdade e de poder que ele não experimentou na infância. Isso somado à má formação cultural, não por culpa deles mas pela situação do ensino público no país e dos clubes que não fornecem reposição escolar nas suas categorias de base, resulta numa mistura perigosa, por vezes explosiva.
E isso não é fenômeno recente, vem de décadas. Alguns casos que poderiam servir de exemplo hoje não são usados. Cito dois que são elucidativos: Paulo César Cajú foi craque nos anos 60 e 70, disputou copas do mundo, saiu do Botafogo foi jogar na França e teve o mundo a seus pés. Quando a carreira acabou, PC não soube aproveitar o que a vida tinha lhe dado e continuou a gastar e mergulhou no poço da cocaína. O craque que teve tudo chegou a morar de favor num subúrbio carioca. Hoje, Paulo César se recuperou e leva uma vida normal, mas bem longe da vida que poderia ter se tivesse tido juízo.
Reinaldo, artilheiro do Galo, nos anos 80 também recorreu à cocaína e teve que parar numa clínica de recuperação depois da humilhação de ter sua derrocada exposta em rede nacional. Reinaldo, o Rei como era chamado no Mineirão, era cracaço mas vivia assolado por lesões. Terminou a carreira mais cedo do que poderia e não soube lidar com a pressão. Hoje está limpo e recuperado.
O de ontem parece pouco perto dos dois citados, mas pode resultar em prisão do atleta. Em que pese ter sido brincadeira, ao que parece, ainda assim é irresponsabilidade. E justo no melhor momento da carreira do jogador que com a aposentadoria do capitão William se estabeleceu ao lado de Chicão na zaga do Corinthians.
O caso Castán é só mais um nessa mistura e, certamente, não será o último. Infelizmente!
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