Eu sou de um outro tempo. Do tempo onde jogador jogava bola por prazer. Onde só jogavam no exterior jogadores já consagrados em seleção brasileira. Onde entrevistas eram dentro do vestiário e não com assessor de imprensa. Num tempo onde colorido era apenas a camisa de jogo e não a chuteira. Onde não existia TV a cabo com pay per view, tempo do futebol no radinho aos domingos. Tempo que ganhava-se a quinqüagésima parte do que se fatura hoje um jogador de ponta. A era romântica do futebol. Como era melhor!
Pois hoje um pouco dessa época voltou. Durante o evento Fifa que premiou os melhores do planeta bola, uma centelha de esperança brilhou. Numa festa que coroou Messi como o rei desse planeta pela quinta vez, houve espaço para um herói anônimo que atende pelo nome de Wendell Lira.
Num ambiente onde desfilavam Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Kaká, Iniesta, Pogba, o goiano Wendel tirou lágrimas dos presentes ao ganhar o prêmio Puskas de gol do ano de 2015. Os olhos marejados de Marcelo, Eto'o e outros mostravam o tamanho da façanha do brasileiro. Wendel levou jogando pelo modesto Goianésia. Num cenário onde concorria com Messi, Wendel levou. Nessa hora não importou que Messi ganhe 9 mil reais por hora enquanto Lira ganha 3 mil por mês. Messi tem contrato quase vitalício no clube mais rico do mundo, Wendell passou 4 meses desempregado em 2015! E assim mesmo levou. Mesmo que digam: "Ah era votação popular" ainda assim o apelo de Wendell é mínimo em comparação com o argentino. O povo brasileiro se mobilizou, esqueceu as diferenças clubísticas e se encantou com alguém que é seu retrato e semelhança. O guerreiro sofrido do dia a dia que corre atrás, que acorda cedo pra garantir o pão de cada dia, que honestamente leva sua vida em um país imerso em corrupção e violência.
Wendell é o herói possível. A síntese do que o povo brasileiro espera. Simplicidade, honestidade e obstinação. Aquele que ofuscou o popstar Neymar pelo menos por um dia. Ele fez você, eu derramarmos algumas lágrimas de orgulho por mostrar que querendo esse país tem jeito. E por mostrar que o futebusiness vai ser futebol sempre! Que bom.